Tirar férias é sempre bom. Eu gosto de escolher lugares desconhecidos para visitar. Desta vez vim para o Nordeste, pois tinha uma dívida moral com este lado do país aonde vim várias vezes a trabalho, mas nunca de fato para conhecê-lo. Vim com minha amiga Silvia, uma das raras companhias que eu toparia compartilhar por duas semanas seguidas. A viagem está saindo conforme planejado, quer dizer, conforme não planejado. A única certeza é que alugaríamos um carro em Maceió no dia 15 de Novembro, e o devolveríamos em João Pessoa no dia 31 de Novembro. Neste momento estamos na Ilha de Itamaracá, um paraíso ao norte de Recife, ainda no estado de Pernambuco. Não pretendo fazer aqui um diário, mas capturar algumas ideias que estão acontecendo pela viagem. Afinal de contas, como eu discuti com a Silvia num dia desses, as férias são sempre vírgulas em nossas vidas, e nos fazem refletir sobre coisas como, por exemplo, por que mesmo que a gente tem que trabalhar, e o que a gente quer da nossa vida de agora em diante. Férias no Nordeste são especiais por colocar em xeque o estilo de vida utilitarista paulista.
A viagem começou por Alagoas, que tem algumas das praias mais bonitas que já vi. Cruzamos a costa desde o extremo sul do estado, na foz do Rio São Francisco, até a fronteira com Pernambuco, onde está Maragogi, outra cidade paradisíaca e aparentemente ignorada pelo turismo. Alagoas é um estado essencialmente pobre. As cidades se espalham pelo litoral em função do mar. Enquanto as cidades alagoanas do litoral parecem vilas praieiras, as cidades pernambucanas exibem um desenvolvimento urbano e cultural muito superior, provando ter recebido investimentos financeiros e intelectuais bem maiores.
A primeira parada após sairmos de Maceió foi o Pontal do Peba, um pequeno vilarejo à beira do mar e cuja paisagem me inspirou alguns versos:
Sentados na praia do Peba,
a praia é nossa.
À nossa frente o mar avança,
e acima avançam nuvens.
Ao nosso lado, urubus flutuam
sobre coqueiros.
São sentinelas, mas não sabemos o que guardam.
Estão aqui antes de nós.
A praia é deles.
Passamos uma semana em Recife, que desmontou nossa ideia de que São Paulo é a vanguarda da moda, da arte e da gastronomia brasileira. Ainda tenho a certeza de que São Paulo é o local com a maior diversidade de opções, porém ficamos encantados com a qualidade das obras de artesanato locais e com o bom gosto dos cardápios de restaurantes da região. Recife é uma cidade carregada de cultura e identidade própria. Grandes artistas vieram de lá: Capiba, Lenine, Chico Science. A música que se faz lá é muito viva e original: o frevo, o forró, o maracatu. Grande parte dos trabalhos de artesanato espalhados por Pernambuco é trazida de Caruaru, pólo comercial do agreste pernambucano. Visitamos a famosa Feira de Caruaru e também o Alto do Moura, origem dos bonecos de barro dos mestres Vitalino, Galdino e Zé Caboclo, para citar os mais conhecidos.
Abaixo vai um cheirinho de Luiz Gonzaga pra colorir a postagem. Só para esclarecer, Januário era o pai de Gonzagão.
Respeita Januário
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Quando eu voltei lá no sertão
Eu quis mangar de Januário
Com meu fole prateado
Só de baixo, cento e vinte, botão preto bem juntinho
Como nêgo empareado
Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito
Foram logo me dizendo:
"De Itaboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior!"
E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó:
Luiz respeita Januário
Luiz respeita Januário
Luiz, tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
E com ele ninguém vai, Luiz
Respeita os oito baixo do teu pai!