quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Machado de Assis
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Machado de Assis, marco zero da literatura brasileira! Eterna inspiração. Excerto do conto "A desejada das gentes".
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
palavras vomitadas
Eu não entendo
aqueles jovens
comendo lâmpadas como indigentes
cuspindo pétalas incandescentes
inconscientes pelas calçadas
Eu não entendo
esses rapazes
partindo lâmpadas fluorescentes
sobre as cabeças de tanta gente
inutilmente manifestada
Eu não entendo
as crianças violentas
pervertidas pela raiva
delinquentes,
transviadas
Eu não entendo
as crianças-violeta
coloridas, disfarçadas
caindo estúpidas
na calçada
Eu não entendo
essas almas iridescentes
se desprendendo pelas bocas
de crianças doces
martirizadas
Eu não entendo
essas pilhérias indecentes
de adolescentes que
no espelho
são a mesma imagem
duplicada
****
Hoje de manhã, chegando no trabalho, eu vomitei essas palavras. Agora que as vejo na tela do computador, sujando outro lugar, me sinto melhor. Lembranças da Rosa de Hiroshima. E do Brejo da Cruz.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
O discurso religioso
Tudo isso para dizer que hoje me vi contente ao ler um texto na sessão de debates da Folha de S. Paulo, escrito por Francisco Borba Ribeiro Neto*, abrindo uma discussão sobre a fronteira tênue entre o público e o privado e suas implicações na forma em que a política enxerga a religião. Para mim, o texto mostra que a religião possui um talento natural para trabalhar na interface entre questões da alma e questões políticas, da vida prática, sem precisar envolver preceitos que tenham que ser tomados como verdade. Desta forma, o discurso religioso pode passar distante das discussões polêmicas clássicas que já conhecemos. Segue uma seleção dos trechos que achei mais interessantes para refletirmos:
“[...] Religiosidade e crença são grandes formadores da autoconsciência e dos valores morais – marcando nossas posições no mundo, mesmo quando não seguimos os preceitos das igrejas. Ajudam a construir nossa consciência ética individual e coletiva. Desse modo, entram no debate político – o que implica o compromisso com o bem comum, mas não ‘neutralidade’.
“No debate político, a forte oposição ao fator religioso nasce de sua insistência em declarar que público e privado não podem ser separados, como insiste a ideologia moderna. A dominação em nossa sociedade se baseia na crença de que a pessoa tudo pode na vida privada, desde que conforme à ordem pública e ao bem comum.
“Oculta que nossa privacidade é permanentemente invadida e manipulada pelo mercado, pela propaganda, pelas políticas públicas, etc. [...]
“A religião é justamente o espaço em que as éticas privada e pública se encontram, em que o sentido da vida deixa de ser questão individual para ser trabalhado como construção social.
“Por isso, a lógica religiosa questiona e desafia a organização ideal da política moderna, e a presença das igrejas neste cenário – mesmo quando não são fundamentalistas e ajudam na luta pelo bem comum – incomoda tanto. [...]
“A construção do bem comum exige de ambas as partes [religiosos e laicistas] o esforço de se deixar questionar pela outra. A relação entre público e privado é o pano de fundo, pouco expresso, desse debate.”
Concluo fazendo um apelo aos líderes espirituais para que se reciclem e repensem o papel da religião na sociedade. Precisamos de menos verdades e mais referências boas.
*Coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Modelo Vivo
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Hannah e suas irmãs (1986)
Woody Allen tem esta característica apaixonante: todos seus personagens nos cativam. Por mais que errem sistematicamente, sempre nos tocam de alguma forma. Talvez seja esta a intenção de Allen: mostrar que as pequenezas humanas podem ser um lado muito interessante se observadas com cuidado.
Hannah é a filha brilhante de um casal comum. Talentosa e generosa, vira referência na família ao tornar-se uma atriz bem-sucedida. Tem dois filhos com o ex-marido Mickey, personagem de Woody Allen, e é casada com Elliot. Descontente com a auto-suficiência da esposa, Elliot se descobre apaixonado por Lee, sua cunhada, em uma festa de família. Passa então a procurá-la e em seus encontros lhe fala sobre (e veladamente dedica) livros e poemas. Simultaneamente, Lee se vê emaranhada em um casamento morno com um artista mais velho e rabugento, pelo qual já não se sente mais atraída. Acaba se entregando a um romance secreto com o cunhado, sob a promessa de que em breve o mesmo deixaria Hannah. Porém os meses se passam e Elliot não a deixa. Cada vez mais desconfortável com a traição à irmã, Lee se desvencilha de Elliot, sob o argumento de que a relação entre ele e Hannah não terminara verdadeiramente; ele era mais apaixonado do que realmente sabia.
Com histórico de abuso de cocaína e perfil de ovelha negra da família, Holly procura continuamente um trabalho onde consiga ao mesmo tempo satisfação e reconhecimento. No entanto, depende financeiramente da irmã Hannah para conseguir tocar seus empreendimentos. Hannah, que se mostra humilde com respeito a seus próprios talentos e tenta se desvencilhar do papel de heroína que lhe foi concedido involuntariamente, poda as ambições de Holly inconscientemente. Apesar de sua generosidade e estima, Hannah sempre demonstra descrença nos talentos da outra, desencorajando-a de projetos mais ambiciosos. Não obstante, Holly decide se entregar a um novo desejo: ser escritora de roteiros. Alguns meses mais tarde, Holly e Mickey — diretor de televisão — se encontram casualmente e Holly mostra a ele seus escritos. Mickey se encanta e promete ajudá-la a fazer com que seu roteiro seja produzido.
Em paralelo: Após mais uma suposta crise hipocondríaca, Mickey procura um médico e, pela primeira vez, se encontra na iminência de um diagnóstico sério e desta vez real. Quando, após alguns exames, o médico descarta a possibilidade de qualquer fatalidade, Mickey se vê feliz e sai saltitante do hospital. Em menos de um quarteirão, porém, é subitamente assaltado por uma profunda crise existencial. Como poderia habitar um mundo onde a morte é uma certeza e a vida não faz sentido? Com seu habitual humor, Woody Allen trafega então por seus diálogos internos, abordando questões filosóficas sobre a vida. Mickey busca líderes religiosos – da Igreja Católica, Consciência Krishna... – e promete ser um seguidor fiel. Quem sabe até um dia acreditar em Jesus? Detalhe: Mickey é Judeu.
Nestas três narrativas entrelaçadas, Woody Allen relata abertamente a beleza das transformações humanas. Holly se torna uma escritora famosa, Elliot redescobre seu casamento com Hannah e Mickey afinal relembra o sentido de viver. Aquelas pequenezas logo se percebem como caprichos charmosos dos personagens. Através dos olhos e da sensibilidade deste gênio das relações humanas, uma semente já é uma flor antes mesmo de ser plantada.
“O coração é um músculo muito elástico”, diz Mickey, no final do filme, ao se apaixonar e se casar com Holly – irmã de sua ex-mulher.
Que beleza, Mr. Allen!
Em algum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu olhar mais ligeiro facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, em algum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,
eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
e. e. cummings
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Uma Rápida Homenagem
— Deus! O que estou fazendo aqui?
Deus, então, responde:
— Olhe ao seu redor.
O homem olha para todos os lados.
— Mas, Senhor, não há nada ao meu redor além de lama!
— Olhe novamente, Vitalino. Com mais cuidado.
O homem torna a observar e medita. Senta no chão cansado. Começa a mexer no barro e a fazer bonecos. E finalmente se enxerga rodeado de infinita matéria-prima de criação.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Brasil, meu Brasil brasileiro
A punição deve ser implacável, mas deve-se ser indiferente às intenções do punido. Julgar o caráter do delinquente é uma mania inútil. Todos somos delinquentes em potencial e a negação deste fato só corrobora o sentimento de culpa – o "pecado inicial", do qual não nos veremos livres jamais – que assola o imaginário brasileiro. Quiçá quebrando este paradigma estaremos preparados para conviver de forma mais harmoniosa e verdadeira.
"O Brasil não existe" – constatou inteligentemente Artur Nestrovski, jornalista, músico, e atual diretor artístico da OSESP. O país exaltado nos lindos sambas de Ary Barroso é uma promessa não cumprida. Um adolescente sambando e sorrindo em imensa ignorância.
Que tal tentar cumprir esta promessa?
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Garoto de Aluguel
Baby,
Dê-me seu dinheiro
Que eu quero viver
Dê-me seu relógio
Que eu quero saber
Quanto tempo falta
Para lhe esquecer
Quanto vale um homem
Para amar você
Minha profissão
É suja e vulgar
Quero um pagamento
Para me deitar
E junto com você
Estrangular meu riso
Dê-me seu amor
Que dele não preciso
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chegasse ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa
Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal
Nada me preocupa
De um marginal
sábado, 4 de setembro de 2010
Revirando o Baú (I)
Andei,
andei sem rumo.
Caminhei —
caminhei entre um espaço
de cinco segundos,
cinco léguas,
cinco dias.
Meus passos suplicavam pela dianteira
e se adiantavam.
Virei à esquerda
(e continuei virando,
num espaço de cinco palmos)
E vi, então, o telefone
de vários ângulos,
de vários olhos.
Liguei.
O telefone berrou ao meu ouvido
contando-me que ninguém estava
(isso ele me contou
em um espaço de um quilômetro)
Sentei no chão,
e guardei em minha pasta arquivos:
documentos, boletos, pagamentos, depósitos, impostos...
Saí com meus pés.
Andei,
andei sem rumo.
O horizonte sussurrou aos meus olhos:
Um Sol lilás, um dia verde...
Um dia,
uma légua,
um passo,
um palmo,
um segundo...
(todos guardados em meu bolso)
***
Esses dias resolvi mexer em cadernos antigos e encontrei algumas coisas que achei bem legais. Este poema escrevi em abril de 1998, com 14 anos! Agoro me arrependo de ter simplesmente parado de escrever e desenhar com esta idade. Mas, como diz aquele provérbio, nunca é tarde pra recomeçar.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
No Acre, again!
Qual é o problema comigo? É a terceira vez que venho pra Rio Branco e só ontem fui ter a iluminada ideia de comer peixe por aqui. Agora, obviamente, não me perdoo por ter insistido tanto em vaca e frango em plena Amazônia. Ainda mais sendo minha família inteira amazônica.
Na última vez em que estive aqui, postei no blog alguns pensamentos sobre o ambiente geopolítico da região, e lembrei que João Donato é acreano. Desta vez, a trilha sonora da viagem é Joni Mitchel, e meu livro de cabeceira é a biografia do Tim Maia. Acho que por isso estou me sentindo um pouco americanizado.
Mesmo me sentindo assim, cosmopolita, cabeça-aberta, English speaker, viajado e viajante, cada vez mais percebo que é nas cidades pequenas que me sinto mais à vontade. Não nasci na cidade de São Paulo, sou do interior do Estado. E parece que interior é mesmo a minha palavra. Pense em Clarice Lispector: interior ou exterior? Apesar de ter lido apenas um livro de Clarisse, me sinto lispectoriano. Um menino do interior.
Acabo de ser descoberto aqui no hotel. Liguei no restaurante para pedir minha sobremesa (a mesma que comi nos últimos dois dias, neste mesmíssimo quarto), mas a moça insistia: “Nunca servimos sorvete no hotel, senhora”. Fiquei duplamente perplexo. Eu respondi em entonação grave: “Senhor. Eu tomei um sorvete de maracujá ontem e um de chocolate anteontem”. E ela repetia: “Não temos sorvete, senhora. Só temos mousse”. E assim o diálogo se repetiu algumas vezes, até que desisti e pedi que viesse a mousse mesmo. Desliguei o telefone me dobrando de rir e ainda sem entender nada. Ela bateu na porta do quarto e me entregou a sobremesa, dizendo “Viu? É mousse!” e saiu rindo também. Como podia essa pessoa saber tanto de mim?
Mistérios à parte, peço licença pra saborear minha moqueca de filhote. Ou “muqueca”, como veio na nota que assinei. E depois, minha mousse de limão!
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Museu Afro Brasil
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Uma morte em três parágrafos
Fiquei surpreso ao chegar em casa um dia desses, meio bêbado, e descobrir que alguma coisa em mim queria morrer. Fui fechar a janela do quarto e esse cara bêbado ficou com vontade de me debruçar na janela pra saltar. Eu falei pra ele: “Você tá louco? Quer se matar, vai sozinho, pode ir. Eu fico.” Fechei a janela, a cortina, e deitei na cama inconformado. Dormi, passou a embriaguez, e o bêbado dormiu também.
Ele acordou outros dias, sóbrio. Eu, sóbrio também, não dava ouvidos. Me fazia de bobo, de surdo. Ele não podia ver uma janelinha, que já vinha me sussurrar, me pedir ao pé do ouvido... Se batia um ventinho bom então, eu quase me deixava seduzir.
Pensei e repensei, conversei com amigos, varei dias matutando sobre aquilo. E cheguei finalmente à conclusão de que tinha que deixá-lo ir. Porque estava velho, não tinha mais o que fazer por aqui. Achei justo. Abri a janela e o empurrei pra fora. Acredita que o safado não caiu? Ele voou!
terça-feira, 20 de julho de 2010
Luiza
domingo, 27 de junho de 2010
Red Hot Chili Peppers + Aranhão
sábado, 19 de junho de 2010
Rabiscos
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Nuvem Negra
Nuvem Negra
(Djavan)
Não adianta me ver sorrir,
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhado
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair,
Se ligarem, não estou
À manhã que vem
Nem "bom dia" eu vou dar
Se ligar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei...
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo
Passa nuvem negra,
Larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro e é preciso
Pra nos levantar, me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer.
http://www.youtube.com/watch?v=RkzwNOTkGOs
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Haicu
Alguém pode explicar
quantos ralos,
quantos esgotos,
quantos cus têm esse cheiro?